A segurança de alimentos avança de forma contínua — e, como em qualquer sistema
de gestão sério, isso exige atualização, coerência com normas internacionais e
alinhamento com desafios globais. A aguardada Versão 7 da FSSC 22000 (Food
Safety System Certification) surge exatamente nesse contexto: responder a um
cenário regulatório mais rigoroso, expectativas de mercado mais maduras e demandas
sociais que colocam sustentabilidade, qualidade e transparência no centro das
decisões.
A seguir, analiso os principais motivos que justificam o desenvolvimento da Versão 7 e
o impacto prático para indústrias, certificadoras e toda a cadeia de suprimentos.
1. Incorporação da nova série ISO 22002-x:2025 – Um salto na padronização dos
PRPs
A família ISO 22002 sempre foi a espinha dorsal dos Programas de Pré-Requisitos
(PRPs), e a atualização prevista para 2025 traz uma reestruturação importante:
PRPs mais claros, mensuráveis e orientados a risco,
Harmonização global de requisitos mínimos,
Aprimoramento de temas como cultura de segurança de alimentos,
alérgenos, mitigação de fraudes e defesa alimentar,
Maior alinhamento com as práticas atuais de engenharia industrial,
manutenção e higiene.
Ao incorporar essa série revisada, a FSSC 220000 fortalece a consistência técnica da
certificação e garante que as organizações trabalhem com práticas atualizadas — não
apenas cumprindo requisitos, mas elevando a maturidade operacional.
2. Alinhamento com o novo GFSI Benchmarking Requirements v2024
A FSSC 22000 é reconhecido mundialmente por sua robustez e credibilidade — e isso
depende diretamente de sua conformidade com o GFSI.
A versão 2024 do Benchmarking Requirements trouxe novos critérios relacionados a:
Aprimoramento das auditorias não anunciadas,
Foco maior em cultura de segurança do alimento,
Monitoramento ambiental mais estruturado,
Requisitos adicionais de gestão, governança e integridade.
A versão 7 do FSSC 22000 absorve essas exigências para manter o
reconhecimento global, proteger a confiança de compradores internacionais e
assegurar competitividade às empresas certificadas.
3. Reforço da conexão com os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS)
Essa é, sem dúvida, uma das mudanças mais estratégicas — e uma resposta clara a
um movimento internacional: a segurança de alimentos não existe isolada da
sustentabilidade.
A versão 7 deve reforçar requisitos relacionados a:
Uso eficiente de recursos,
Redução de desperdícios,
Impacto ambiental das operações,
Responsabilidade social,
Cadeias de suprimentos responsáveis.
Isso conecta o FSSC 22000 não apenas à conformidade, mas à governança ESG —
uma demanda crescente de mercados, investidores e consumidores.
4. Estrutura mais definida para categorias da cadeia alimentar
A atualização também reorganiza e detalha melhor as categorias da cadeia produtiva,
trazendo:
Maior clareza sobre elegibilidade;
Melhor orientação para escopos específicos;
Redução de ambiguidades durante auditorias;
Facilitação para novas tecnologias e novos tipos de operações.
Para empresas complexas — como multiprodutos, processos híbridos e plantas
integradas — isso será especialmente relevante.
5. Ajustes editoriais e aprimoramentos contínuos
Como toda evolução de sistema, parte da atualização inclui:
Revisão de linguagem,
Maior clareza interpretativa,
Correções estruturais,
Aprofundamento de notas explicativas,
Simplificação de fluxos.
Esses ajustes são discretos, mas aumentam precisão, reduzem erros de interpretação
e tornam auditorias mais consistentes entre diferentes certificadoras.
Quando a Versão 7 será publicada?
A FSSC ainda não confirmou a data exata, mas a previsão é:
Publicação: final do 1º trimestre ou início do 2º trimestre de 2026
Período de transição: 12 meses
Isso significa que organizações certificadas terão um ano completo para revisar
seus sistemas, implementar as mudanças e se preparar para auditorias já alinhadas
à nova versão.
O que as empresas devem fazer desde já?
Como consultora, minha recomendação estratégica é:
1. Iniciar um diagnóstico prévio (gap assessment) mesmo antes da publicação
oficial.
A estrutura da ISO 22002-x:2025 e do GFSI BR 2024 já aponta tendências claras.
2. Treinar equipes-chave imediatamente.
Compras, manutenção, engenharia, qualidade, produção e liderança.
3. Revisar PRPs com foco em risco e métricas claras.
4. Atualizar matrizes de risco de food safety, fraude e defesa.
5. Preparar indicadores ESG que dialoguem com ODS.
6. Revisar os escopos de certificação e categorias aplicáveis.
7. Mapear investimentos necessários ainda em 2025.
As empresas que começarem antes sairão na frente — não apenas evitando não
conformidades, mas conquistando vantagem competitiva.
A Versão 7 do FSSC 22000 não é apenas uma “atualização técnica”: ela representa
uma evolução estrutural no modo como a indústria global enxerga segurança de
alimentos, sustentabilidade e governança.
As mudanças reforçam a credibilidade do programa, conectam o setor aos grandes
desafios globais e elevam o nível de maturidade dos sistemas de gestão.
Para organizações que buscam excelência — e não apenas certificação — esta é uma
oportunidade valiosa para fortalecer processos, cultura e reputação.